A Responsabilidade Social de Engenheiros e Arquitetos na Adequação aos Critérios de Desempenho Térmico da NBR 15575
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24/10/2023A norma técnica NBR 15575, conhecida como Norma de Desempenho, passou por uma significativa atualização em 2021, promovendo alterações cruciais em dois de seus requisitos fundamentais: o desempenho térmico e o desempenho acústico. Originalmente promulgada em 2013, essa norma desempenha um papel fundamental na garantia da qualidade e segurança de edifícios no Brasil. A revisão desses requisitos específicos reflete a evolução das tecnologias e das demandas do setor de construção, assegurando que as edificações atendam aos mais altos padrões de eficiência térmica e acústica, proporcionando ambientes mais confortáveis e sustentáveis para seus ocupantes. Neste artigo, exploraremos as principais atualizações da Norma de Desempenho, destacando seu impacto no cenário da construção civil.
Desempenho acústico
Sistemas de pisos
No critério de desempenho ao ruído aéreo entre sistemas de pisos, foi incluído o desempenho mínimo para sistemas entre ambientes onde não há dormitório, requerendo, portanto, a necessidade de realizar estudo e ensaios para ambientes de salas, cozinhas, corredores e até mesmo banheiros.
- Tabela 7 da NBR 15575:2021
Sistema de Fachadas
Para avaliar o desempenho acústico das fachadas primeiramente é necessário realizar a classificação do ruído externo e na versão 2013 da Norma de Desempenho as classes do ruído externo não possui uma faixa de níveis de ruído, que tornava a classificação subjetiva. Para auxiliar os profissionais e reduzir a subjetividade, a ProAcústica publicou um manual que auxiliava na classificação. Na versão 2021 a NBR 15575 trouxe essas faixas de valores de ruído indicados inicialmente no manual da ProAcústica para dentro da norma, normalizando essa situação que trazia bastante insegurança para os profissionais e construtoras.
- Tabela 17 da NBR 15575:2013
- Tabela 20 da NBR 15575:2021
Além da definição da faixa de ruído para cada classe, também ficaram definidos os métodos para realizar a classificação do ruído externo. Um método alternativo foi proposto na versão 2021 da Norma de Desempenho, que é um aperfeiçoamento do método alternativo proposto pelo manual ProAcústica de classificação de ruído externo. Esse método apesar de não requerer equipamentos de medição, requer uma análise detalhada do entorno da obra, o que leva a necessidade de realizar uma avaliação criteriosa, onde na maioria dos casos acaba sendo inviável tecnicamente. Esse método alternativo requer um esforço técnico grande e gera uma insegurança técnica do resultado, sendo, portanto, recomendado que essa classificação seja feita por meio de medições de campo.
Sistemas de paredes internas
Em relação aos critérios de desempenho acústico para as paredes internas foi incluído o critério de isolamento mínimo de ambientes separados pelo hall de unidades habitacionais de unidades habitacionais do tipo loft, kitnet, estúdio ou outros possíveis nomes dados a apartamentos onde o quarto, cozinha e sala fazem parte de um único ambiente.
- Tabela 21 da NBR 15575:2021
Sistema de Cobertura
Em se tratando dos critérios de desempenho acústico para os sistemas de coberturas, foi retirado na nova versão da NBR 15575 o critério de ruído aéreo D’ntw de coberturas acessíveis, mantendo o critério D2m,tw. Isso se deve ao fato de coberturas acessíveis não serem fechadas (garagens, jardins, etc.), devendo neste caso o ensaio ser feito com o mesmo método aplicável para as fachadas.
Outras alterações
Foi apresentado na nova versão da norma a metodologia para avaliar em projeto o desempenho acústico dos sistemas. Desta vez essa metodologia ainda não possui caráter normativo, mas se torna bastante útil para otimizar os recursos e evitar retrabalhos em obra. A metodologia é baseada em fórmulas obtidas por regressão de resultados de ensaios, então apesar de ser uma excelente ferramenta, requer cuidados no desenvolvimento dos cálculos e é necessário ter cuidado para não extrapolar esse método de cálculo para novos sistemas construtivos.
Junto com a metodologia de cálculo para avaliar o desempenho acústico em projeto, a norma trouxe a indicação do índice de redução sonora (Rw) de alguns materiais convencionais, que servem apenas como uma referência e não devem ser tomadas como resultado final do desempenho dos sistemas, como descrito na própria norma.
Saiba mais sobre a metodologia de cálculo para avaliação do desempenho acústico em projeto aqui!
Desempenho térmico
A metodologia de avaliação do desempenho térmico da norma de desempenho versão 2021 manteve os dois métodos de avaliação, sendo método simplificado e o método computacional, porém ambos os métodos sofreram grandes modificações que requer dos projetistas maior atenção aos conceitos de eficiência térmica e energética das edificações.
Método simplificado.
O método simplificado teve a inclusão d o critério de área de transparência máxima, ou seja, agora possui limitação de área de vidro nos ambientes de permanência prolongada das habitações. A falta deste critério tornava o método simplificado da versão 2013 muito permissível, pois apesar deste método de avaliação analisar apenas os elementos opacos (paredes e telhados) permitia caracterizar o desempenho térmico de edificações com grandes áreas envidraçadas.
Outra mudança significativa no método simplificado para a versão 2021 da Norma de Desempenho é a necessidade de avaliar todos os critérios para cada ambiente de permanência prolongada (APP) e, também deve ser feito o cálculo da transmitância, capacidade e abosrtância térmica equivalente da fachada de cada APP.
Essa equivalência descrita anteriormente requer que seja considerado os diversos elementos das fachadas e não somente o elemento utilizado para a vedação. Como por exemplo, numa parede de alvenaria cerâmica temos também que levar em consideração os elementos estruturais de vigas e pilares que façam parte da parede externa. Desta forma, os ambientes de permanência prolongada podem até ter o mesmo elemento de fechamento, neste caso o tijolo, mas muito provavelmente terão a transmitância e a capacidade térmica diferentes.
Outra alteração significativa que não está explicita nas tabelas é a observação quanto ao uso de isolante térmico nas fachadas, onde só se computa a capacidade térmica dos elementos voltados para dentro do ambiente, desprezando todos os elementos voltados para o exterior da manta. Desta forma, as construções leves normalmente não terão a capacidade térmica mínima normativa do método simplificado, sendo necessário realizar a simulação computacional.
Método de simulação computacional
Esse critério foi o que mais sofreu alterações nas atualizações da Norma de Desempenho. Mudou totalmente a forma de avaliação.
Como era na versão 2013:
- A avaliação do critério era feita comparando a temperatura interna dos ambientes com a externa.
- Simulava apenas uma UH para o verão e uma para o inverno.
- Não considerava o entorno.
- Não considerava a carga térmica de utilização da edificação (pessoas, eletros e iluminação).
- Simulava apenas um dia do ano com dados de dias típicos de inverno e verão
Como ficou na versão 2021:
- A avaliação dos critérios é feita comparando a edificação real com uma edificação de referência.
- Realizada a simulação todas as unidades habitacionais de no mínimo 3 pavimentos.
- Considera o entorno.
- Considera a carga térmica de ocupação.
- Uso de arquivos bioclimáticos de estações do INMET.
- É simulado todos os dias do ano.
As mudanças são significativas, tornando o método computacional muito mais próximo do desempenho térmico real da edificação.
Conclusão
Nas alterações referentes ao desempenho acústico, as revisões desempenharam um papel crucial, proporcionando maior clareza na classificação do ruído externo e introduzindo a possibilidade de avaliar o desempenho acústico dos sistemas desde a fase inicial do projeto. Isso representa um avanço significativo, permitindo que profissionais do setor construam ambientes mais silenciosos e agradáveis para seus ocupantes.
No que tange ao requisito de desempenho térmico, as mudanças implementadas tornaram os métodos consideravelmente mais técnicos do que as versões anteriores. Essa revisão era uma necessidade essencial para permitir a evolução contínua dos projetos e construções, uma vez que os critérios da versão de 2013 eram notavelmente permissivos. Essa atualização é um reflexo do compromisso contínuo com a eficiência energética e o conforto térmico nas edificações, assegurando que as construções sejam mais sustentáveis e proporcionem ambientes internos mais saudáveis.
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É importante notar que, em uma norma tão extensa e complexa quanto a Norma de Desempenho, outros requisitos também demandam revisões futuras à medida que o setor de construção continua a evoluir. A chave para o sucesso reside na manutenção do aprimoramento técnico dos profissionais envolvidos, promovendo, assim, uma constante melhoria na qualidade das habitações no Brasil. À medida que a norma se adapta às necessidades em constante evolução do mercado, ela continua a desempenhar um papel essencial na garantia de que as edificações atendam aos mais altos padrões de desempenho, segurança e sustentabilidade.